sexta-feira, 25 de junho de 2010

Juddi Krishinamurte


A Consciência - A Totalidade da Vida - O Percebimento

Ao tornardes-vos cônscio do vosso condicionamento compreendereis a totalidade de vossa consciência. 
A consciência é o campo total onde funciona o pensamento e existem as relações. 
Todos os motivos, intenções, desejos, prazeres, temores, inspiração, anseios, esperanças, dores, alegrias, se encontram nesse campo. 
Mas nós dividimos a consciência em ativa e latente, em nível superior e nível inferior; quer dizer, na superfície todos os pensamentos, sentimentos e atividades de cada dia e, abaixo deles, o chamado subconsciente, as coisas que não nos são familiares, que ocasionalmente se expressam por meio de certas sugestões, intuições e sonhos.
Ocupamo-nos com um pequeno canto da consciência, que constitui a maior parte de nossa vida; quanto ao resto, a que chamamos subconsciente, com todos os seus motivos, temores, atributos raciais e hereditários, não sabemos sequer como penetrá-lo. 
Agora, pergunto-vos: Existe mesmo tal coisa - o subconsciente? Empregamos muito livremente essa palavra. Admitimos que essa coisa exista e todas as frases e terminologias dos analistas e psicólogos se insinuaram na nossa linguagem...; mas, existe ela? E, por que razão lhe atribuiu tamanha importância? A mim ela parece tão trivial e estúpida como a mente consciente, tão estreita, tão fanática, condicionada, ansiosa e sem valor quanto ela.
Assim, será possível ficarmos completamente cônscios de todo o campo da consciência e não meramente de uma parte, de um fragmento? 
Se puderdes tornar-vos cônscios da totalidade, agireis sempre com vossa atenção total e não com uma atenção parcial. Importa compreender isso, porque, quando se está cônscio de todo o campo da consciência, não há atrito. 
Quando se divide a consciência - toda ela constituída de pensamento, sentimento e ação - em diferentes níveis é ai então, que há atrito.
Vivemos de maneira fragmentária. No escritório somos uma coisa, em casa somos outra coisa; falais de democracia e, no íntimo, sois autocratas; falais em amor ao próximo e ao mesmo tempo o estais matando na competição; uma parte de vós está ativa, a olhar, independentemente da outra. 
Estais cônscios dessa existência fragmentária em vós mesmos? E será possível ao cérebro, que dividiu o seu próprio funcionamento, o seu próprio pensar em fragmentos, tornar-se cônscio do campo inteiro? É possível olharmos o todo da consciência completa e totalmente, o que significa sermos entes humanos totais?
Se, a fim de compreender a estrutura total do "eu", de extraordinária complexidade, procederdes a passo a passo, descobrindo camada por camada, examinando cada pensamento, sentimento e motivo, ver-vos-eis todo enredado no processo analítico, que vos levará semanas, meses, anos; e quando admitimos o tempo no processo da autocompreensão temos de estar preparados para toda espécie de deformação, porquanto o "eu" é uma entidade complexa, que se move, vive, luta, deseja nega; sujeita a pressões e tensões de toda espécie, que nela atuam continuamente. 
Descobrireis, assim, por vós mesmos, que não é esse o caminho que deveis seguir; compreendereis que a única maneira de olhardes a vós mesmos é fazê-lo totalmente, imediatamente, fora do tempo; e só podeis ver a totalidade de vós mesmos quando a mente não está fragmentada. O que vedes em sua totalidade é a verdade.
Mas, sois capazes disso? A maioria não o é, porque nunca nos abeiramos do problema com seriedade, porque na realidade nunca olhamos a nós mesmos. Nunca! Lançamos a culpa a outros, satisfazemos-nos com explicações, ou temos medo de olhar. 
Mas, quando olhardes totalmente, aplicareis toda a vossa atenção, todo o vosso ser, tudo o que tendes vossos olhos, vossos ouvidos, vossos nervos; estareis atentos com o mais completo auto-abandono e não haverá então mais lugar para o medo, para a contradição e, por conseguinte, não haverá mais conflito.

Atenção não é a mesma coisa que concentração. A concentração é exclusão; a atenção é percebimento total, que nada exclui. 
A maioria de nós não me parece estar cônscia, não só do que estamos dizendo aqui, mas também de nosso ambiente, das cores que nos rodeiam, das pessoas, da forma das árvores, das nuvens, do movimento da água.
Isso acontece, talvez, porque estamos tão interessados em nós mesmos, em nossos insignificantes problemas, nossas próprias idéias, nossos prazeres, ocupações e ambições, que não podemos ficar objetivamente cônscios. Entretanto, muito se fala de percebimento. 

Certa vez, na índia, eu viajava de automóvel. Um motorista conduzia o carro, e eu ia sentado ao seu lado. Atrás, três homens discutiam com muito ardor sobre o percebimento, fazendo-me de vez em quando perguntas sobre o assunto...

Continua no próximo poster.


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