continuação do poster anterior...
Naquele momento, o motorista, que estava a olhar para outra parte, infelizmente, atropelou uma cabra, e aqueles três homens prosseguiram na discussão sobre o percebimento, completamente alheios ao atropelamento da cabra.
Quando essa falta de atenção lhes foi apontada, os três cavalheiros, que tanto se empenhavam em estar atentos, demonstraram grande surpresa.
Quando essa falta de atenção lhes foi apontada, os três cavalheiros, que tanto se empenhavam em estar atentos, demonstraram grande surpresa.
A mesma coisa acontece com a maioria de nós. Não estamos conscientes nem das coisas exteriores nem das interiores.
Se desejardes compreender a beleza de uma ave, de uma mosca, de uma folha, de uma pessoa, com todas as suas complexidades, tendes de dispensar-lhe toda a vossa atenção - e isso é percebimento.
E só podeis dar toda a atenção quando tendes zelo, quer dizer, quando amais realmente o compreender; aplicais então ao descobrimento todo o vosso coração e toda a vossa mente.
Se desejardes compreender a beleza de uma ave, de uma mosca, de uma folha, de uma pessoa, com todas as suas complexidades, tendes de dispensar-lhe toda a vossa atenção - e isso é percebimento.
E só podeis dar toda a atenção quando tendes zelo, quer dizer, quando amais realmente o compreender; aplicais então ao descobrimento todo o vosso coração e toda a vossa mente.
Esse percebimento é coisa semelhante a viverdes com uma serpente em vosso quarto; observais cada um dos seus movimentos, sois altamente sensíveis a cada ruído que ela produz.
Tal estado de atenção é energia total; nesse percebimento se revela instantaneamente a totalidade de vós mesmos.
Tal estado de atenção é energia total; nesse percebimento se revela instantaneamente a totalidade de vós mesmos.
Ao olhardes-vos dessa maneira profunda podeis descer mais fundo ainda.
Empregando as palavras “mais fundos” não estamos fazendo comparação. Nós pensamos comparativamente - profundo e superficial feliz e infeliz.
Estamos sempre a medir, a comparar. Mas, será que existe em alguém mesmo tal estado - o superficial e o profundo? Quando digo "minha mente é superficial, mesquinha, estreita, limitada" - como sei dessas coisas? Porque, comparei minha mente com a vossa mente, que é mais brilhante, tem mais capacidade, é mais inteligente e alertada.
Posso conhecer minha pequenez sem comparação?
Quando sinto fome, não comparo essa fome com a fome que ontem senti.
A fome de ontem é uma ideia, uma lembrança.
Empregando as palavras “mais fundos” não estamos fazendo comparação. Nós pensamos comparativamente - profundo e superficial feliz e infeliz.
Estamos sempre a medir, a comparar. Mas, será que existe em alguém mesmo tal estado - o superficial e o profundo? Quando digo "minha mente é superficial, mesquinha, estreita, limitada" - como sei dessas coisas? Porque, comparei minha mente com a vossa mente, que é mais brilhante, tem mais capacidade, é mais inteligente e alertada.
Posso conhecer minha pequenez sem comparação?
Quando sinto fome, não comparo essa fome com a fome que ontem senti.
A fome de ontem é uma ideia, uma lembrança.
Se sempre estou a medir-me por vós, a esforçar-me para ser igual a vós, estou então negando a mim mesmo.
Por conseguinte, estou criando uma ilusão.
Ao compreender que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analiso a mim mesmo, aumentando o meu conhecimento pouco a pouco, ou identificando-me, com algo fora de mim mesmo - o Estado, um salvador ou uma ideologia), ao compreender que todos esses processos só levam a mais ajustamento e conflito, abandono toda comparação.
Minha mente já não está a buscar. Muito importa compreender isso. Minha mente já não está então a tatear, a buscar, a indagar. Isso não significa estar satisfeito com as coisas como são, porém, sim, que a mente não tem ilusão nenhuma.
Pode então mover-se numa dimensão totalmente diferente. A dimensão na qual vivemos nossa vida cotidiana, de dor, de prazer, de medo, condiciona a mente, limita-lhe a natureza, e quando aquela dor, aquele prazer e aquele medo deixaram de existir (o que não significa não ter mais alegria; a alegria é coisa totalmente diferente do prazer), a mente passa então a funcionar numa dimensão diferente, na qual não existe conflito, nenhuma ideia de diferença.
Por conseguinte, estou criando uma ilusão.
Ao compreender que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analiso a mim mesmo, aumentando o meu conhecimento pouco a pouco, ou identificando-me, com algo fora de mim mesmo - o Estado, um salvador ou uma ideologia), ao compreender que todos esses processos só levam a mais ajustamento e conflito, abandono toda comparação.
Minha mente já não está a buscar. Muito importa compreender isso. Minha mente já não está então a tatear, a buscar, a indagar. Isso não significa estar satisfeito com as coisas como são, porém, sim, que a mente não tem ilusão nenhuma.
Pode então mover-se numa dimensão totalmente diferente. A dimensão na qual vivemos nossa vida cotidiana, de dor, de prazer, de medo, condiciona a mente, limita-lhe a natureza, e quando aquela dor, aquele prazer e aquele medo deixaram de existir (o que não significa não ter mais alegria; a alegria é coisa totalmente diferente do prazer), a mente passa então a funcionar numa dimensão diferente, na qual não existe conflito, nenhuma ideia de diferença.
Verbalmente, só podemos chegar até esse ponto; o que existe além não pode ser expresso em palavras, porque a palavra não é a coisa. Até aqui, pudemos descrever, explicar, mas nem palavras nem explicações podem abrir a porta.
O que abrirá a porta é o percebimento e a atenção diários - percebimento da maneira como falamos, do que dizemos, de nossa maneira de andar, do que pensamos.
Isso é como limpar e manter em ordem um aposento.
Manter o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância a outro respeito. Deve haver ordem no aposento, mas a ordem não abrirá a porta ou a janela.
O que abre a porta não é vossa volição ou desejo.
Não se pode de modo nenhum chamar o outro "estado de espírito".
O que se pode fazer é apenas manter o aposento em ordem, o que significa ser virtuoso por amor à virtude e não pelo que isso nos trará ser equilibrado, racional, ordenado.
Então, talvez, se tiverdes sorte, a janela se abrirá e a brisa entrará. Ou pode ser que não.
Tudo depende do estado de vossa mente. E esse estado da mente só pode ser compreendido por vós mesmo ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo, sem jamais concordar, justificar, condenar, julgar; quer dizer, estar vigilante sem fazer nenhuma escolha.
E, em razão desse percebimento sem escolha, a porta talvez se abra e conhecereis aquela dimensão em que não existe o conflito nem o tempo.
O que abrirá a porta é o percebimento e a atenção diários - percebimento da maneira como falamos, do que dizemos, de nossa maneira de andar, do que pensamos.
Isso é como limpar e manter em ordem um aposento.
Manter o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância a outro respeito. Deve haver ordem no aposento, mas a ordem não abrirá a porta ou a janela.
O que abre a porta não é vossa volição ou desejo.
Não se pode de modo nenhum chamar o outro "estado de espírito".
O que se pode fazer é apenas manter o aposento em ordem, o que significa ser virtuoso por amor à virtude e não pelo que isso nos trará ser equilibrado, racional, ordenado.
Então, talvez, se tiverdes sorte, a janela se abrirá e a brisa entrará. Ou pode ser que não.
Tudo depende do estado de vossa mente. E esse estado da mente só pode ser compreendido por vós mesmo ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo, sem jamais concordar, justificar, condenar, julgar; quer dizer, estar vigilante sem fazer nenhuma escolha.
E, em razão desse percebimento sem escolha, a porta talvez se abra e conhecereis aquela dimensão em que não existe o conflito nem o tempo.
Mel
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